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Artista visual, arteira desde sempre. Amo moda, fotografia, desenho, teatro, dança. E mais tantas outras coisas, mas...Acima de tudo, amo a liberdade de ser eu mesma!!!!!

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segunda-feira, 1 de março de 2010

O que é Arte?

...quando não vejo posso imaginar, quando imagino posso até tocar, tocando posso sentir, sentindo eu posso escutar o que o artista quis me dizer sem falar. Arte é mais do que imagens, cores ou sons soltos no ar, porque só a arte tem o poder de saciar a sede dos sentidos, é voar.
Escrevi esta pérola (haha) em abril de 2004, no meu primeiro semestre de Artes Visuais.
Recebi uma nota baixa pelo trabalho (O que é Arte), na disciplina de Introdução a Arte e uma observação curiosa da professora...que a conclusão do trabalho poderia ser mais minha...
Lembro que entrei em choque! Como um versinho, saído do fundo do meu coração poderia não ser "mais meu"?
Não quis entrar em atrito com ela, e não fui chorar minha nota, que com certeza não era o meu problema, mas sim o fato de alguém ter duvidado da minha capacidade criadora...!
Talvez todos nós um dia já tivemos uma frustração como essa.
Mas nem por isso deixei de escrever minhas rimas (que ficaram por um longo tempo só pra mim) e hoje tenho profunda admiração pela professora em questão!
Brincadeiras à parte, quero falar sobre como alguns poetas têm o poder de nos fazerem compreender a vida mais profundamente.

Eu tinha onze anos e saí da escola de Canoas, voltei a morar em Porto Alegre por motivos de força maior.
Caí de paraqueda numa sala de quinta série (turma 53) de uma escola no bairro Cidade Baixa. E numa aula de francês! Difícil adaptação com colegas de histórias tão diversas e perturbadoras (com raras excessões), não estava mais num lugar onde todas as pessoas se conheciam desde a pré escola, com mães que as levavam na porta da sala de aula pela mão...
Eu era mais uma, no meio de muitos outros alunos.

Na primeira semana de aula, meu pequeno mundo caiu. Eram brigas de faca, cigarro, maconha, viatura da brigada militar... alunos com vinte anos, durante anos na mesma série, sem a mínima perspectiva de crescimento, tratando as professoras como escravas a serviço de maus tratos psicológicos... e as coisas indo de mal a pior no apartamento onde morava com minha tia e minha avó.



Naqueles dias deprimentes, em que nem uma alma penada falava a minha língua, numa aula de português, eu tive o que posso chamar de um diálogo silencioso.
Copiei do quadro um texto que foi banal para a turma, mas fundamental para meu pequeno mundo:
O Mapa

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(E nem que fosse o meu corpo!)
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...

(Mário Quintana)

Aquele poema me fez ver o quanto sentia amor por Porto Alegre, mas no momento, aquele não era o meu sentimento pela cidade, que me parecia tão hostil.

Senti como se o próprio Mário Quintana estivesse me descrevendo um pouco naquelas linhas, e dividindo comigo a certeza de que mesmo entre o corpo estranho da cidade, havia um lugar melhor e a possibilidade de ser finalmente parte do lado bom daquele ar!

Não tive dúvidas: entreguei-me ao papel e a caneta, como uma forma de comunicação, mesmo que silenciosa. Era como se aquele ar, que parecia mais um olhar, também me confidenciasse sua vida.









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