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Artista visual, arteira desde sempre. Amo moda, fotografia, desenho, teatro, dança. E mais tantas outras coisas, mas...Acima de tudo, amo a liberdade de ser eu mesma!!!!!

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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Vê o que Te Enxerga

Os registros de hoje são de mais um trabalho com experimentação de materiais. Uma tela com base na mistura de MDF, gesso, papelão, jornal, grude de farinha de trigo, massa corrida e filtros de café.


Como não encontrei uma tela com tamanho suficiente, expandi as dimensões das laterais superiores.
Com papelão e papietagem, consegui criar uma superfície resistente para receber camadas de massa corrida, rendas, tintas e verniz.
Para o centro da tela, fiz um rosto em gesso, para destacar a pintura com relevo.
Os recortes de renda deram textura delicada e me orientaram nos contornos da base superior.










Como referência, tive a lembrança de dois trabalhos feitos em meados de 2005.


Mas o "clique" deu-se quando recordei a história de uma dessas telas.
Em visita à proprietária, fiquei feliz em ver meu trabalho na parede da sala. Foi quando soube que o quadro foi a única peça salva de um ataque em sua casa.
Todos os seus objetos pessoais, de trabalho, móveis e utensílios diversos foram destruídos após um acesso de fúria do seu ex-namorado.
Fiquei sem palavras ao ouvir tudo aquilo e ver como ela se refez dos cacos materiais e emocionais daquele triste relacionamento.
Passado o nosso encontro, não pude deixar de imaginar o que teria acontecido naquela cena, pela perspectiva do quadro, no "camarote do absurdo".
Quero acreditar que a força da intenção com a qual faço meus trabalhos, acaba se refletindo na vida de quem os pertence.
São mais do que pinturas, colagens ou costuras. Tornam-se objetos de poder.










Partindo desse princípio, busquei o mesmo sentido.
De ser visto, mas também ter a sua própria visão.
Pensar na paisagem que nos vê, o que ela reflete quando encara nosso olhar?
O Sol representando o terceiro olho, a glândula pineal da paisagem que também nos observa.
Creio que nossas buscas também nos procuram.
Isso me fascina, levar essa ideia para minhas obras é sempre uma espécie de norteamento do meu encantamento.
Sim, pode beirar à bobice... Mas alguma vez já foi surpreendido pelo olhar que não se vê? Aquele que é feito só pra ti, num instante que não voltará mais!?
Outro dia, passando por um mendigo que dormia na calçada de uma farmácia, reparei que na sua frente, dois grandes e silencioso olhos o observavam, guardando seu sono esquecido.
Não tive muito tempo pra ficar. E não quis fotografar aquilo, não me senti digna de mais nada, a não ser seguir com uma certeza. Enquanto os olhos do mundo se voltam para o lixo, o horror e a pobreza, existem encontros como aquele.
Uma grande e belíssima borboleta parou à frente do homem, com as palmas das asas fechadas em prece, olhando aquele casulo humano, rastejante e quem sabe, ainda por ser alado.


Olha a paisagem. O que tu vês é também o que te enxerga.
Abraços, até o próximo post!


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