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Artista visual, arteira desde sempre. Amo moda, fotografia, desenho, teatro, dança. E mais tantas outras coisas, mas...Acima de tudo, amo a liberdade de ser eu mesma!!!!!

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sábado, 24 de setembro de 2011

Um bater de asas...

Imagem de Marco Mazzoni.

Durante as primaveras, a vida nos presenteia com pequenas asas coloridas, capazes de produzir grandes transformações.
Estou falando de borboletas. Acredito que agora posso compartilhar os motivos que me fazem senti-las tão inexplicavelmente...
Acho que eu contava com 15 anos de idade quando tudo aconteceu.
Meu quarto era o meu reino de lembranças e imagens, que davam cores ao local que eu considerava o coração da casa onde morei.
Eu poderia ter acordado de mais um sonho qualquer, mas era "aquela época" da minha adolescência, em que tudo me tornava cada dia mais incomum, principalmente, os meus sonhos.

Século XIX. Rua República, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.
Eu corria por aquela rua completamente modificada, como se tivesse entrado em uma máquina do tempo.
Meu objetivo era encontrar uma mulher. Sabendo seu endereço intuitivamente, eu subia por uma escadaria de mármore que, obviamente, seria impossível existir naquele tempo. Pelo menos não, naquela localidade.
Ao entrar ofegante no quarto daquele belo prédio do sonho, me deparei com a cena mais absurda, bela e inesquecível que tenho lembrança.
Duas figuras femininas me aguardavam à frente da janela do quarto. Não pude identificar suas feições, vestiam luto. Um belo luto em seus vestidos fechados com golas altas e espartilhos, com os rostos cobertos por véus negros, acima dos chapéus.
Somente uma frase foi dita por uma das mulheres. Algo como: "Chegas-te a tempo".
Me posicionei entre elas no parapeito da janela aberta.
Tudo que podia ver era um vasto céu azul e duas colinas milimetricamente iguais, como dois montes cobertos por um tapete de vegetação de um verde vivo. Em cada colina, um grande circulo de flores amarelas, que tornavam ainda mais bela aquela composição, como dois grandes olhos floridos.
Nós três, silenciosamente olhávamos para a paisagem e eu pude sentir, talvez pela primeira vez, o silêncio.
Era algo tão forte, como se nada de mais incrível pudesse acontecer.
Foi então que, para meu total estado de choque, um forte ruído vindo do estremecimento da terra, tomou conta daquele cenário. E a vegetação das colinas, começou a se mover, como se fosse uma toalha arrancada de uma mesa. Rapidamente, diante dos meus olhos incrédulos, o "tapete" de vegetação, transformou-se em uma gigantesca borboleta. Que bateu suas asas e voou pelo horizonte à nossa frente, desaparecendo...

Ao acordar assustada, era como se eu já não fosse mais a mesma Daniela. Todo aquele barulho, como um terremoto, ainda era muito forte e vivo. Lembro de dizer sem parar: "Meu Deus...Saiu voando!"
O sonho foi contado muitas vezes, com todos os detalhes para minha família, meu namorado e pessoas que eu sabia que, de alguma forma, poderiam me ajudar a tentar compreender tudo aquilo.
Uma enorme borboleta arrancada da terra, aquele horizonte... Quem eram aquelas mulheres? Eu já as conhecia? Eram representações da minha própria imagem?
Essas e muitas outras dúvidas tiravam o meu sono e passaram a ser presenças constantes no pensamento.
E naquela primavera, um fato que poderia ser comum, mas tornou-se curioso, passou a acontecer.
Borboletas entravam pela janela do meu quarto, mas não voltavam para a rua. Elas morriam. Algumas voavam por certo tempo, até encontrarem algum local para pousar e lá ficavam até perder as forças.
Inicialmente fiquei feliz por receber visitas tão ilustres! Mas o fato delas aparecerem com frequência, "dormirem" comigo e amanhecerem sem vida, me deixou intrigada. Como não queria jogá-las fora, passei a guardá-las em potes, para conservar a variedade de formas e cores de cada borboleta que comigo ficava.
Eu sonhava quase todos as noites com elas, e sempre que podia, fotografava borboletas que apareciam em locais inusitados, aonde quer que eu estivesse.
A história de que eu gostava de borboletas, se espalhou. Algumas pessoas, passaram a guardar borboletas mortas para me presentear, pensando que eu era colecionadora.
Mas como explicar que, na verdade, era como se elas tivessem me escolhido?
Fiz cerca de trinta borboletas de tamanhos, cores e formatos diferentes, com meu material de desenho. Colei-as no teto do meu quarto, acima da cabeceira da cama. Durante a noite, com o abajour ligado, suas sombras se multiplicavam e eu podia contemplar aquela revoada que passou a me fazer companhia.
Procurei entender o comportamento das borboletas na natureza, estudando as pequenas "lepidópteras" e levando-as com um casulo para aulas de biologia na escola. Passei a bordar, desenhar e pintar borboletas para estampar minhas roupas e os mais diversos utensílios.
Enfim... Tento entender ainda hoje os motivos delas estarem sempre presentes, de alguma forma, em momentos importantes da minha vida.
Passaram a ser uma marca pessoal que eu carrego por dentro, sem necessidade de serem sempre vistas como tatuagens, estampas ou acessórios. Elas simplesmente aparecem de algum lugar, para marcarem sua breve passagem na Terra e me dão "oi", com um simples bater de asas...
Desejo a todos os leitores uma maravilhosa primavera! Que o colorido e a transformação das borboletas possa elevar seus pensamentos e atos.
Abraços, até o próximo post!

Abaixo, algumas borboletas e mariposas que já cruzaram o meu caminho!



2 comentários:

  1. Dani, Dani.... é incrível como nossas histórias se parecem... é incrível como quanto mais o tempo passa, mais eu acredito que nosso encontro nessa vida não é por acaso. Também tenho uma ligação muito forte com borboletas (o q explica um pouco o nome do meu blog) e curiosamente tbm tenho guardadas algumas que cruzaram o meu caminho. Mas sabe que uma coisa que sempre acreditei era que esses seres pequeninos, coloridos, lindos e de vida tão curta (em sua maioria) não eram bichinhos comuns... Sempre que me sentia deslocada (e não foram poucas vz's) nesse mundo terreno, frio, dos homens que não sonham e precisava de algo que me fizesse sentir mais perto daquilo que acredito ser a minha casa (algo que não sei explicar, apenas sentir) eis que apareciam o que chamo de: pqnos sinais de Deus. Elas sempre estiveram presentes nesses momentos e de alguma forma me inspiravam à atitude que deveria tomar dali por diante... Se é fantasia da minha cabeça ou não, eu não sei... mas sei as coisas que vi e e senti e acredite, foram bem reais... Costumo dizer que aquela música do Luan Santana "Sinais" fala um pouco dessa minha verdade existencial. E uma das coisas que aprendi é reconhecer essas borboletinhas nos olhos das pessoas e vc minha cara, é uma dessas borboletinhas... Abs

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  2. Gabi, sempre me fazendo chorar! Minha linda, nosso encontro foi e sempre será um grande presente! Bjs!!!!

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