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Artista visual, arteira desde sempre. Amo moda, fotografia, desenho, teatro, dança. E mais tantas outras coisas, mas...Acima de tudo, amo a liberdade de ser eu mesma!!!!!

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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O que mais quero...

"The Fall" 2006 (Dublê de Anjo, no Brasil),  um filme independente de Tarsem Singh Dhandwar, um veterano diretor de videoclipes é um filme ricamente produzido, um encanto para os olhos e ouvidos atentos para uma bela trilha sonora e espetacular direção de arte, focada na paisagem e no figurino, sem efeitos especiais, que deram vida a um roteiro que poderia passar despercebido se não fosse a atuação do elenco, especialmente pela dupla Lee Pace e Catinca Untaru, uma menina de cinco anos que me causou inveja.
E é sobre essa "inveja" que eu gostaria de falar.
Não pensei que um filme poderia me levar para tão longe no tempo e para uma realidade bem menos aventureira que o cinema.
Querer mudar algo que já passou é bem absurdo, confesso que tenho desejos absurdos e infundados, mas quem não os tem?
Já estive em quartos de hospital e convivi com a dor de sentir dor e talvez a pior das dores, a solidão. Aos sete anos, tudo que se quer é saciar as necessidades mais básicas da vida: brincar, comer, dormir, conviver com as outras crianças da escola, da família e da sua rua.
Mas tudo que eu mais queria era dormir e acordar sem dor, tudo que eu queria era estar viva. Eu não podia sair da cama e não conseguia dormir. A luminosidade do quarto, que na maioria dos casos é a salvação ao medo de escuro de muitas crianças, foi  justamente o que me torturava (e até hoje preciso do escuro). Mesmo desenhando, lendo e escrevendo cardápios de tudo que eu desejava comer durante o dia (minha alimentação era através de soro), eu não tive maiores ocupações.
Os gritos de um menino à noite aliados a luz de emergência sempre acesa me trocaram de local, fui levada para um grande quarto que devia parecer bem maior do que realmente era, afinal, eu era a única criança presente.
Sem ter noção do tempo, lembro exatamente das poucas companhias que tive no quarto. Uma menina de aproximadamente quatro anos, com a cabeça enfaixada devido a um acidente de moto. Passados outros dias, Mariana, com a mesma idade que eu, tinha cabelos negros e despenteados, a pele morena. Enquanto brincava com sua Barbie, ela falava comigo com um ar arrogante.
Quando usei uma sonda para me alimentar e vomitar (sim, não me vêm palavra melhor no momento), eu fui deslocada para outro quarto. Um menino de onze anos, acho que seu nome era Rodrigo, tentou me ajudar certo dia, em que a sonda não mais adiantava. A enfermeira não chegaria a tempo para me alcançar um recipiente. O menino lentamente levantou de sua cama, muito magro e com dificuldade, atravessou o quarto arrastando o suporte de seu soro e me alcançou uma tigela metálica, já era tarde, eu estava suja e com medo do que mais me fariam quando descobrissem...
Todos eles ficavam por poucos dias e eu permanecia. Assim descobriram que após quase um mês de sofrimento, meu corpo respondia da pior forma o que para os adultos parecia birra porque eu não chorava. Descobri  novas palavras. Infecção generalizada, bloco cirúrgico... Mais uma "operação". Não fazia idéia do que significava morfina, eu só sabia que era algo que não fazia mais efeito no meu sangue.
Outra hora contarei o desfecho de mais essa desventura, quem sabe...Ter a clavícula quebrada e um amigo contador de histórias me causou inveja!
O que importa agora é que posso contar realidades através da ficção da Arte que há dezenove anos atrás eu nunca imaginaria ser possível!
O que mais quero é o agora...
Abraços!

3 comentários:

  1. Nunca imaginei que vc pudesse ter passado por tanto sofrimento! Que menina corajosa! Que brava criatura! Por isso essa fome de liberdade...tá explicado! Dani, teu texto me emocionou muito!É forte, visceral! E conta o final da história por favor! Um abraço beeeeem apertado pra ti!
    bju.

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  2. Que lindo!!!! Agora quem está emocionada sou eu! Obrigada mesmo!!!!
    Que bom que gostou, nunca pensei em um dia contar isso no blog, com mais tempo eu continuo rsrsr!!! Grande abraço!

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  3. O final da história vai estar sempre em construção. A certeza que vc pode ter é o apoio de seus amigos, que te amam - tipo eu!
    hahaha
    ;***

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