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Artista visual, arteira desde sempre. Amo moda, fotografia, desenho, teatro, dança. E mais tantas outras coisas, mas...Acima de tudo, amo a liberdade de ser eu mesma!!!!!

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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Reencontros

Terminei de ler um livro. Um livro ruim.
Talvez essa não seja a melhor forma de definir uma história da qual não gostei, mas foi tudo que consegui dizer depois de lê-lo. Se o propósito do autor era me deixar com raiva por ter me iludido com a capa e com uma promessa de um final fantástico e feliz, com certeza ele conseguiu. Talvez em outro momento da minha vida eu teria gostado de suas páginas, ainda posso voltar atrás daqui um tempo e encontrar algo de bom.
 Escrever livros é tão fácil, difícil é não ser apenas mais um título na prateleira.
Com certeza eu não tenho a menor vocação para ser crítica de literatura e dificilmente os livros terão o mesmo valor, depois que eu...
Junho de 2001. Eu costumava ter o bom hábito de fazer pelo menos um desenho por dia, com grafite e aquarela.
Terminava um desenho ouvindo meu CD de clássicos de Bach enquanto meus pais me chamavam para sair. Não lembro bem o compromisso, acredito que iríamos ver materiais de construção para o término da reforma de casa, mas lembro da minha roupa, uma calça jeans que ganhei aos quinze anos, já bem usada e uma blusa de lã cor de pêssego.
Como odiei aquele desenho. Deixar os pensamentos me levarem sem pensar antes no que traçar era ridículo, pois eu nunca tinha uma explicação para o que aparecia no papel...
Era mais uma moça, uma dama. Naquelas horas eu precisava de uma modelo para observar, pois havia ficado bem desproporcional, uma cintura fina demais, os olhos apagados e um rosto que não me dizia nada. A paisagem foi da pior falta de criatividade. Sem entender nada de arquitetura, naqueles dias eu estava desenhando locais que nem sabia se passariam pela mente racional de algum engenheiro com bom senso! 
Enfim, guardei mais um desenho, que na minha ignorância era sempre considerado bom ou ruim, belo ou feio.
Passaram alguns meses.
Minha professora de Literatura, Liege, pediu que escolhêssemos um autor brasileiro para um trabalho de aula, um livro para  preencher uma ficha de leitura. Eu acabava de entender o que eram as tão faladas leituras obrigatórias, muito chatas, portanto, obrigatórias.
Entre os autores que eu poderia escolher, estava Machado de Assis. Mas não o escolhi pelo nome ou pela popularidade. Seria a primeira vez que leria uma obra dele e não tinha a mínima vontade de conhecê-lo, queria mesmo um livro bem pequeno, que eu pudesse ler logo para terminar a bendita ficha de leitura e voltar para As Brumas de Avalon, meus outros livros, meus desenhos e minhas músicas.
O livro milimetricamente escolhido foi Helena.
Um romance lido rapidamente, uma leitura de dar sono. Porém, ao chegar no início do capítulo XVI algo aconteceu:

"Helena leu e releu a carta. Depois ficou silenciosa, a olhar para as folhas da trepadeira, que do lado de fora viera a subir
pela muralha da varanda e a debruçar-se enfim do parapeito para dentro. A carta ficara aberta sobre os joelhos da moça.
Mendonça, a poucos passos, olhava para esta,  sem ousar falar-lhe.
    Goethe escreveu um dia que a linha vertical é a lei da inteligência humana. Pode dizer-se, do mesmo modo, que a linha curva
é a lei da graça feminil. Mendonça o sentiu, contemplando o busto de Helena e a casta ondulação da espádua e do seio,
cobertos pela cassa fina do vestido. A moça estava um pouco inclinada. Do lugar em que ficava, Mendonça via-lhe o perfil
correto e pensativo, a curva mole do braço, e a ponta indiscreta e curiosa do sapatinho raso que ela trazia. A atitude convinha
à beleza melancólica de Helena. O rapaz olhava para ela sem movimento nem voz.
    A tarde expirava; a cor verde do morro fronteiro ia tomando o aspecto cinzento-escuro que precede a cor fechada da noite.
A própria noite desceu, e um escravo entrou na varanda a acender as duas lâmpadas que pendiam do teto. Esta circunstância
acordou a moça, e bastou-lhe voltar um pouco a cabeça para ver o amigo de Estácio a alguns passos de distância."

Eu parei de ler. E como se não tivesse entendido bem, voltei a ler novamente. E retornei a leitura dos primeiros parágrafos muitas vezes até me certificar de que eu não poderia estar enganada. Não, eu não estava.
Cuidadosamente eu fui até minha pasta onde ainda hoje guardo alguns registros daquela época dos desenhos diários... E como se o desenho pudesse rasgar, o coloquei no meu cavalete. Lendo linha por linha daquele trecho, eu olhava para o desenho e mesmo assim não acreditava no que via. Seria apenas uma coincidência?
Se eu não tivesse passado por outros fatos artisticamente estranhos e que só aconteciam comigo, sim, eu não teria levado em consideração este simples desenho.


O que eu fiz? Voltei a ler todo o livro rapidamente, para ver se descobriria algo mais. Terminei meu trabalho de aula e vasculhei as prateleiras de biblioteca da escola.
Queria todos do Machado e foi o que fiz. E foram outros também: Cruz e Souza, José de Alencar, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu e até mesmo Érico Veríssimo, o autor que originou o nome da escola... Mas poucos sabiam sobre ele. Eu tive a surpresa de ser a primeira pessoa a ler seus livros intocados na prateleira dedicada a ele.
Seria eu uma louca? Não sei, mas com certeza eu não fazia parte daquela sociedade escolar, e aqueles dias tão meus, no universo do meu quarto eu tinha uma pasta cheia de desenhos, cada um deles contava uma história, que de alguma forma, um escritor dividia comigo, bastava eu procurar...
Guardo todas comigo. Helena, Capitu, Lucíola...São cores, lugares e sentimentos de saudade quando desenhava ou reconhecia alguma história, davam sentido aos traços planejados sem o meu conhecimento!
Não consigo explicar, mas tenho profundo respeito por Machado de Assis, sua vida e tudo que ele representa. Agora, depois de tanto tempo tenho coragem de falar sobre ele, que assim como outros autores, tenho como velhos conhecidos.
Faz um tempo que não tenho mais "visitas" e reencontros inusitados, espero não ter mais raiva de autores que não conheço, somente pelo fato deles não desenharem comigo!
A propósito, o livro que eu li e não gostei chama-se A Garota dos Pés de Vidro e, nas últimas páginas, lembrei de um trabalho da universidade... Coincidência? Leia o livro e me diga!






Alguns desenhos que considero significativos.







Abraços, até o próximo post.

2 comentários:

  1. Uau, Dani! Que viagem!!! Sincronicidade total!
    Agora os livros terão uma magia a mais pra mim. Vou imaginar que desenho tu tens guardado pra eles!

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  2. Um dia, se conseguir, eu ainda escreverei sobre as pessoas que conheço depois de desenhá-las!!! Obrigada mesmo!

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